O ORGULHO CAUSA ENFERMIDADE E DEPOIS MATA


Ele então disse: - Porque você está tão feliz? – demonstrando na voz, truculência.
Ela respondeu: - Felicidade não é aquilo que você tem e sim aquilo que você sente. Ela só existe em frações de segundos e não existe permanentemente, é uma sensação real de satisfação! Estou assim porque você está bem – enxugara as lágrimas que insistiam em cair de sua face angelical cautelosamente.
Ele disse: - Bem! Que ironia de sua parte dizer que estou bem. Eu sei o que é felicidade, acha que sou burro? Mas nunca mais vou sentir isso de verdade, sou realista e sei que o vai acontecer comigo – gritou aos quatros ventos e continuou. – Eu sou o mais infeliz, o mais desventurado, nunca voltarei a ser o que era antes, e você vem me falar de felicidade?
Ela recolheu aquelas palavras equivocada dele sabendo que tinha algo a mais o deixando pesado e querendo mandar embora, e ela sabia o que ele tinha. O acúmulo do tempo que, atormentado pelas ilusões de uma recuperação, jogou aquela cachoeira de espinhos em cima dela. 
Ela tentou se desvencilhar das acusações que ele proferia, desligando-se das insinuações das potentes provocações dele. Desvinculou-se então da reta que tinha ligação com aquele que fazia questão de lhe ofender. De ser o pior, nesses momentos em que ela estava ajudando-o com todo carinho no momento em que ele precisava extremamente de sua paciência. O que ela tinha de sobra.
Ele era arredio e muito orgulhoso. Muito mesmo.
Ela não sabia de onde vinha tanta força para aturar a ingratidão dele. Os acontecimentos eram distribuídos pelos momentos de lembrança em que ela agora flutuava longe dele, que entorpeciam em cada fragmento do seu ser, porém no fundo não se arrependia de ter o ajudado tanto. De ter se privado de certas atividades para cuidar dele.
O câncer alastrava-se cada vez mais veloz.
Ela fazia suas orações diárias, pedindo a Deus força para aguentar tamanha prova. Tamanha dor que já morava em seu ser. Fazia o esforço necessário para se manter equilibrada perante a situação embaraçosa e cheia de aflitos. Não sabia mais como sorrir de alegria, fazia tempo. Pois, as marteladas que ganhara diariamente a deixava afundada, cada vez mais.
No dia seguinte ligara para uma amiga e resolvera desabafar aos ouvidos que com carinho a escutava em seus lamentos sobre o marido que era atroz.
 - Porque tenho que carregar nas costas esta dor que não é minha? – perguntou ela chorosa com a voz carregada de tristeza.
- Porque você jamais carregaria algo que não tivesse capacidade de aguentar. Isso é um problema seu e dele, mas como você é forte, carrega a parte mais pesada – Disse a amiga, e continuou – porque também essa luz que existe dentro de você está cada vez mais acesa. Você é a pura luz da caridade, o fato de estar se doando sem querer nada em troca já eleva você, sua moral e tudo mais de bom que você mereça. Isso vai acabar logo, e você sabe. Sua força que aguenta vocês dois. - Finalizou.
Depois, desligando o telefone, jogou o resto de lágrimas que ainda permaneciam nas beiradas dos olhos taciturnos, para fora.
O tempo passou, e ele a ignorava. Ela, por sua vez, fazia de tudo para ajudar porque preocupava se ele sentia dor ou não, se tinha se alimentado, ou não. Um dia, cansada da rejeição dele, perguntou:
- Você está bem?
- O que você acha? – disse com ódio e com um olhar de fúria.
Ele com sua rudeza a fazia criar escudos para protegê-la das energias negativas que ele produzia com seus pensamentos azedos. Ela não entrava em sintonia com o grau de vibração ruim dele. Ela compreendia o que estava acontecendo por isso não retrucava, sabia que ele estava falando da boca para fora, de acordo com a raiva que sentia. Mas, entendia que não merecia ser tratada daquela forma e resolveu falar:
- Eu tenho certeza que se eu estivesse no seu lugar você não estaria me zelando do jeito que eu faço com você!
Saiu de perto e o deixou sozinho.
Mais tarde, ela voltou. Tinha certeza que ele havia refletido sobre a sua afirmação. E de fato refletira. Chegando perto, o abraçou e ele começou a chorar. Ela sabia que não precisava ouvir um pedido de desculpas, sabia o quanto ele era orgulhoso e não conseguia fazer isso com facilidade, mas ela, compreendendo a situação o deixava chorar em seus braços, só ofertando á ele o que de fato precisava. De consolo e alguém com quem contar naquela fase tão difícil da sua vida.
Mas a raiva não saiu da criatura pessimista. Aquele momento de consolo não amansou seu coração endurecido. Continuou orgulhoso.
Cada dia era mais difícil. Ele sugava as energias dela o tempo todo sem que ela tivesse tempo de recarregar-se. E foi assim até que não existiram mais vírgulas, só restando um ponto final. 


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