Memórias escritas

  
Embrulhei o papel e coloquei na garrafa
E joguei na areia do mar
Não olhei para trás e sim para o céu
Que testemunhou o meu desapegar.

Alguém vai achar meus escritos
E por curiosidade vai me ler
Vai descobrir meus sentimentos ocultos
E o mundo que eu costumava ver.

Vai chorar as minhas lágrimas
Doer-se em minhas dores
Sorrir nos meus sorrisos
E desejar os meus amores

Saberá os meus segredos
Vai sentir tudo o que eu senti
Vai beber de algumas fontes
Das quais eu criei para me prevenir

Vai saber do meu modo romântico
Dos homens que eu me apaixonei
Dos que tentaram partir o meu coração
E outros que eu nunca se quer beijei

Vai amedrontar-se com meus medos
Vê-se nas linhas das minhas saudades
Vai descobrir no meu recôndito
O que escondi na minha intimidade

Vai ler meus versos de amor platônico
De utopias redondas e ingentes
Mas também vai ler sobre amor sincero
De doses harmônicas e coerentes

Vai falar os fonemas que não falei
Tentar me traduzir do jeito que não pensei
Coisas reais não intrigantes de saber 
Ou fingidas que eu nem imaginei

Vai concordar e discordar
E soar o despreparo nas lacunas
Se achar num estranho intervalo
E encontrar palavras taciturnas

Vai despertar-se a lucidez esquecida
Filtrar a solidez de dentro para fora
Vai tirar-se de si mesmo e me ser
E quando despertar vai sentir a aurora.

 Sentirá a dificuldade de me traduzir
De forma que as palavras se escondiam
Os olhos confundidos e arregalados
De ouvidos que não escutavam o que diziam

Vai me chamar de louca desenfreada
Por deixar meu segredo ao céu
Por contar o segredos abstratos
Deixado escrito num papel.






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