Cartas IV
Ainda insisto em mim. E por insistir, não sou mais o que eu
era antes, agora sou um vasto pensamento do que eu deva continuamente ser. Tudo
o que passou foram processos de aprendizagens e ainda são; o que antes eu não
conseguia degustar agora eu compreendo bem, que foi necessário. há uma nova
ordem dentro de mim que se refugia em meus pensamentos absortos numa longitude
não tão distante assim, mas que contrária à repulsão. Além disso, todas as
ideias que antes eu jogava na gaveta dos “desnecessários” a meu ver, agora são
resgatadas.
Muito faz sentido daquilo que não fazia. Mais explícito do
que implícito. E sentindo essa eclosão de verdades que aportam em meu saber,
toda a minha energia neste momento não é mais gasta em vão. Tenho propósitos.
Tenho pensamentos que são meus. O desprendimento me dá o prazer de ter o que eu
antes não prestava atenção que já existia. É sempre bom descobrir o que já se
tem.
E vaguei bastante, durante horas num só lugar, dentro de
mim. Me fiz perguntas e respondi. Tive raciocínios à proporção que me deixava
ir mais fundo em mim. Cheguei a conclusões que antes, por caminhar em estradas
tortas, eu não conseguia chegar, pelo motivo simples de eu não ser capaz de
viver uma resposta naquele momento sem estar preparado para tal. Conforme meu
estado mental, espiritual e corpóreo.
Era como procurar por livros num língua desconhecida, que
nada poderia me ofertar. Nada poderia me dizer. Me ensinar, me intuir, nada. E
então parei de procurar por fora, pois vi que não era ali o lugar certo. Quando
vim parar aqui, eu comecei a sentir que tinha que procurar respostas por
dentro. Dentro de mim. Comecei a gastar minha energia comigo. Daí, senti que
estava no caminho certo.
Sei que às vezes, quando estamos na cegueira que nos
constitui a vedar o que de fato devemos ver, caímos feio. O que é preciso, mas
há sempre reclamação. E esse cair nos faz ter uma percepção mais rápida de algo
que não deu certo. O sofrimento é a regeneração, se eu não tivesse sofrido
daquele jeito eu não estaria dessa forma tão calmo agora, paciente. Hoje eu
vejo o sofrimento como algo normal, aceitando tudo o que me venha, pois sei que
é através dele que irei deixar de ser cego de vez. Alguns sofrem muito mais e
outros menos, à medida que plantam suas sementes para depois colherem seus
fritos. E a cegueira já não é tão cega, vai clareando aos poucos.
Aprendi a alimentar as partes que me constituem. A sensação
que tenho é quando o vento passa e deixa aquele cheiro da natureza no ar,
sempre serena e notável. Os pássaros estão sempre cantando e como estou mais
sensível eu os ouço dia e noite.
Não penso que é difícil estar aqui, nem tenho medo. Já nem
sei o que é o medo. Mas penso que se eu não ficar pensando tanto no que há lá
fora, continuarei melhorando enquanto eu olhar para mim, com o objetivo de ser
o que eu vim para ser.
Concluo esta carta com um poema que eu fiz em agradecimento
a sua doação de energia. Digo com sinceridade que eu tenho sentido um suave
brotar encalorado em meu coração, e abrigo esse calor, porque sei que essa
fonte é segura. Obrigado!
Não há coração que fique vazio
Não há solidão que viva sozinha
Não há plenitude que seja completa
Há uma razão para tudo o que há
Todas as energias contidas ao redor
São testemunhas daquilo que a cegueira veda um olhar.
Não existe um ponto final e sim muitas vírgulas.
O amor é dar seu melhor em tudo o que se faz.
E quando sente a tal satisfação, é o resultado.
A felicidade terrena é o momento de paz.
Não há respostas fora e sim dentro.
Você pode responder o que pergunta.
Basta ter discernimento.
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