Encontro casual
O bar já dava
sinal vital. Pernas dobravam-se nas cadeiras e bocas enchia-se de goles
alcoólicos. Olhares grudavam nas escuras linhas de corpos que dançavam no meio
da pista.
Um homem
adentrou o recinto misteriosamente, de olhar único e fixo, sabendo exatamente
onde deveria ir. Era um cliente veterano. Conhecia todos os trabalhadores e
alguns frequentadores daquele bar. Pôs-se a conversar com o barman, de um jeito
bem particular. O homem estava com rugas de dúvidas, e o barman respondeu com o
dedo indicador a interrogação solicitada. Logo, o sujeito foi até o fundo do
bar, com o drink na mão e sentou-se na mesa reservada. Ficou
observando a massa cinzenta de corpos em movimentos. Reparou que havia mulheres
aparentemente bonitas, elegantes, dotadas de uma aparência superficial. Pensou
em como elas eram sem maquiagens, sabia do que aquele tipo de mulher gostava e
procurava. Geralmente em companhia de outras mulheres, pois não andavam
sozinhas.
Os assuntos
proferidos de suas bocas cheias de batom era dinheiro, status, beleza, homens e
tudo o que é de interesse material, com uma porcentagem do que não é. Ele nem
as olhava com intensidade, sabia que se desse alguma chance uma delas parariam
em sua cama no final da noite. Por minutos resolveu olhar para a porta. E como
de forma costumeira ele estava lá, todas as sextas-feiras. Naquele mesmo
horário. Naquela mesma mesa, e sozinho.
Em frações de
segundos uma mulher invade a cena, com um olhar sombrio, gélido e esvoaçante.
Ela rouba o olhar dele ao sentar-se no banco de frente ao barman. Faz um pedido.
Ele não pudera evitar, se viu em suas curvas, em seus cabelos escorregadios, em
suas pernas longas a mostra, e um corpo lindo e delgado tapado com um vestido
vermelho sutil. Não conseguira ver seu rosto muito bem, mas mostrava linhas de
juventude e delicadeza.
Ele não
conseguiu se segurar por muito tempo, escreveu um bilhete e chamou o garçom, em
seguida pediu que entregasse àquela mulher. O garçom o fez com entusiasmo, pois
sabia que aquele homem não se comunicava com mulher nenhuma antes de ir embora,
era hábito fazer isso na hora de ir embora, mas ainda estava cedo. Gostava
de fica sozinho, sem ter que ouvir histórias, não gostava muito de falar com
aquelas mulheres tão vazias de conteúdos. Ele era exigente. Muito. Talvez uma
deficiência que o deixara com ar de prepotente.
Ela então leu o
bilhete. O barman já sabia o que tinha que fazer e fez uma bebida para ela. Em
seguida ela pegou e foi senta-se na mesa dele.
- É costume seu pagar bebida para mulheres que entram sozinhas no bar?
- Não, pois
nunca vi nenhuma sozinha. É a primeira vez.
- Obrigada pela
gentileza. – Ela o olhou sem sorrir.
- Disponha.
Ele remexeu na
cadeira, estava se sentindo estranho. Geralmente eram as mulheres que ficavam
desconfortáveis com jeito dele. Mas agora, era ele que estava assim.
- Algum
problema com a cadeira?
- Com a cadeira
não.
Ela o
interrogou com o olhar. Parecia penetrá-lo. Ele já sentia um arrepio interior e uma vontade louca de pegá-la ali mesmo.
- Eu não sei o
que você veio fazer aqui, mas acredito que você deva ir para a minha casa.
- E por que eu
iria? Só porque aceitei seu convite não quer dizer que irei aceitar o que
você...
- Eu só desejo
você.
- Direto.
- Não gosto de
rodeios. Acho desnecessário perder tempo.
- Concordo. Mas
por qual motivo eu iria até sua casa?
- Por que você
quer o mesmo que eu, senão, não estaria aqui sentada agora.
- Só estou
carente de companhia esta noite. A cidade é barulhenta quando as pessoas pensam demais
sem ter algum conteúdo a oferecer. Privo-me de companhias assim. Que me sugam.
Por isso vim para cá, mas não com a intensão de ir para casa de nenhum homem.
- E você acha
que a sintonia que temos acontece sempre?
- Que tipo de
sintonia é essa?
- Você sabe.
Os dois ficaram
se olhando, trocando informações pelos olhares. Ele a queria por muitos motivos
e ela o queria, por um motivo só.
- Por que você
me deseja?
- Não existe um
por que e sim uma vontade. Não precisamos explicar tudo.
- Vou ao
toalete. – Ela saiu sem dizer se voltava.
Ele
levantou-se. Sabia que ela voltaria e o procuraria. Marcou algo no papel e deu ao barman, fazendo um pedido:
- Entregue à ela, por favor, é meu endereço e meu telefone. Não posso perder essa
oportunidade, ela é diferente, única.
Ele saiu. Com a certeza de que ela iria.
Ela voltou e
olhou a mesa vazia. O barman a chamou e entregou o bilhete. Ela leu e no fim,
estava escrito:
"Você sabe
como me encontrar, vem!"
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