Jerusa




Um dia ela quis amar
Sentia falta de alguém que nunca amou
Pegou um caderno e uma caneta
E quis largar palavras no papel.
Cansou de falar do amor
E de não o praticar.
Quis conhecer o que ele era
Foi sentar num banco qualquer
Ouvindo Elis Regina
"Eu só queria ser".
Pôs-se a rapariga a detalhar
Uma carta para alguém.
Ainda não sabia para quem.
Um sujeito que talvez a quisesse de vez.
A senhora, já passada dos quarenta.
Trazia rugas e expressão cansada
Seria de tanto exigir o que não existia?
Ou talvez estivesse demorando esse tanto mesmo!
Pensara que vivera de tudo um pouco
Mas que nada! Se ainda não beijara de verdade!
Não tivera filhos e nem achou que teria.
Mas tivera uma penca de sobrinhos.
Era a caçula de mais vinte irmãos
Seu pai adorava fazer filhos.
Porque na época não havia TV
Era tentador ficar embaixo do cobertor.
Fora a única a não se casar.
Por opção, pois era muito assediada.
Mas a danada era exigente demais
Queria um marido bonito, rico e inteligente.
Ela sofria influência dos contos de fadas
Dos romances que lia e eternizava em sua mente.
Sempre achou que ninguém era bom o bastante.
E ficou sozinha desde então, desde sempre.
Mas agora, bateu a vontade de degustar um par de cuecas.
Nada mais dava saciedade, nem a alimentava direito.
Ela achara que era falta alguma coisa.
E se pôs a escrever:
Eu tô procurando um amor
Talvez em algum lugar do interior
Talvez ele esteja no fundo mar
Não tenho mais preferências
Nem alto e nem baixo
Nem gordo e nem magro
Não precisa ser muito bonito
Mas também não muito feio
Que um amor para passear,
Conhecer o mundo inteiro.
Cansei de ficar sem ninguém
Não tem graça não compartilhar
Tenho tanto guardado em mim
Muita coisa para falar
Muito carinho acumulado
Sem ninguém para apreciar
Tenho muito amor para dar
Cadê o meu lindo amor?
Por onde anda esse jumento?
Eu tô esperando até hoje!
Será que ele está em outro casamento?
Ou talvez nem seja ele!
E eu toda tola aqui esperando.
Eu quero é um amor!
Para multiplicar os sentimentos
Ouvir o mar
Olhar a brisa
Sentir o vento
Beijar a noite
Caminhar na areia
Juntar os trapos!
E me complementar.
Ela deixou a carta no banco
E foi embora com vontade de voltar.

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