O mascarado

No limiar da porta lá estava eu,
com um vestido amarelo olhando a multidão de estranhos. Eu usava uma máscara que
só aparecia a boca, assim como a maioria. O colorido das vestes, dos
desconhecidos, se misturava feito um arco-íris em rodízios de lábios
sorridentes.
Eu andava entre as damas e
os cavalheiros procurando um local para repousar e continuar visualizando a
festa. Ao encostar-me em um local bem reservado, avistei uma silhueta que
movia-se e ao se encontrar com a luz parou. Era um rapaz alto. Soltava um ar de
mistério e parecia procurar um lugar para se aquietar. Estava todo de preto e
usava uma máscara dourada, e seus cabelos louros a mostra eram bem penteados. Ele
se virou e me avistou. Segundos depois, vi-me prendida nos seus olhos
acinzentados que não sabiam desviar dos meus.
Ele me observava lá de longe. Eu
fazia o mesmo. As minhas dúvidas eram escuras. Ele parecia taciturno. O
único gesto era de seus olhos que não paravam de olhar os meus. Eu piscava, e
ele também. Eu desviei o olhar com vergonha e tentei olhar a festa para
disfarçar minha reação e talvez meu rubor facial.
Para sair daquela situação, fui
atrás de uma bebida. Foi em vão, o salão estava lotado, voltei depois de alguns
minutos para o mesmo lugar para mascarar o meu desejo de não estar lá. Respirei
fundo e olhei para o local que ele estava e não resistindo ao impulso me vi
novamente dentro do olhar dele, mesmo a distância. Era mágico.
Minutos depois, em um entre e sai
de pessoas me perdi dele e assim que abriu uma brecha eu já não o via mais. Não
sei como ele agiu tão rapidamente. Mas, para minha grande surpresa ele apareceu
na minha frente, como se tivesse surgido do nada. Estávamos a três metros um do
outro. Meu coração acelerou mais do que o normal. Vi-me ruborizada.
Olhamos-nos, e eu tentava desviar,
mas percebi que meus olhos não queriam olhar para outro local a não ser aqueles
grandes olhos cinzentos. Ele não se mexia, apenas me olhava e eu não conseguia
decifrar nenhum fragmento de emoção que pudesse sair daqueles olhos. Eu já
estava me sentindo mal.
Aproveitando o
movimento ao nosso redor eu fui ao toalete. Imaginei que assim eu desviasse a
sua atenção. Aquele mascarado de alguma forma estava mexendo não só com partes
do meu corpo, mas sim com meu corpo todo. E me vendo no espelho, desconhecendo
a minha imagem, o senti me olhando e me desejando. Fiquei um momento sem pensar
em nada. Respirei e sai do toalete.
Na saída, meu coração disparou
porque ao olhar o salão inteiro eu não o vi mais. Será que foi embora? Algo
dentro de mim sentia medo de ir embora e não conhecer aquela figura tão
chocante para meus olhos. Mas enfim, atravessei o salão e continuei a
visualizar a multidão.
Havia uma escada que dava para o
segundo andar e fui subindo. Sentei lá em cima e fiquei vendo todos
que estavam lá embaixo e nada dele. O que será que esse cara estava tentando
fazer comigo? Fique um mar de nervos e ansiedade. Não era justo. Detesto ser
desafiada, pois era isso que ele estava fazendo, me desafiando a olhar para ele
com aqueles olhos maravilhosos.
Senti um toque nos meus ombros e
fiquei assustada. Atrás de mim uma voz estava perto do meu ouvido e falou:
- Não fale nada. Deixe-me
aproveitar da sua presença.
Era ele! Quem mais poderia ser? Uma
voz tão linda e grave. Ele lançou-se a minha frente e pegou na minha mão a
beijou delicadamente sem tirar seus olhos dos meus. Enregelei-me por dentro. E,
em seguida continuou:
- Permita-me conhecê-la um pouco
mais senhorita. Mesmo que for só por esta noite.
Eu o olhei timidamente e meus
olhos lhe deram a resposta.
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